
Seria impossível falar de Vidigueira, sem falar no Enoturismo e na gastronomia, mas também ficarão surpreendidos pela riqueza histórica deste concelho.
As searas, os olivais e as vinhas também fazem parte da riqueza natural e humanizada desta região e dão origem aos produtos locais que tanto apreciamos, como o pão, o azeite e, sobretudo, o vinho.
Convidamos, através deste artigo a virem connosco descobrir esta terra, cujo mote é “Vidigueira, Onde o Tempo se Vive”. Se ficaram com vontade conhecer, não percam o nosso programa Vidigueira, Vinho da Talha e Rio Guadiana, de 28 de Fevereiro a 2 de Março.
O que visitar na Vidigueira
Vidigueira fica no Baixo Alentejo, no distrito de Beja, na fronteira com o Alto Alentejo. A norte, a Serra do Mendro separa o Baixo Alentejo do Alto Alentejo, e a Vidigueira do distrito de Évora. A leste, o concelho é delimitado pelo rio Guadiana e a sul e a oeste por vastos campos e planícies.
Torre de Menagem - Castelo e Janela Manuelina

A Torre de Menagem é o que resta do antigo castelo da Vidigueira, que remonta ao século XIII, do reinado de Afonso III. Nesse tempo estava a ser conduzida uma estratégia de repovoamento desta região, após a reconquista do território aos Mouros.
Depois de ter pertencido à Coroa, a posse do castelo foi concedida ao ilustre navegador D. Vasco da Gama, quando este recebeu o título de Conde da Vidigueira. Ainda se pode ver na torre o brasão de armas dos Gamas.
Junto à Torre, encontra-se uma janela manuelina, trazida de Vila de Frades em 1970. Quanto à sua origem, pensa-se ser do palácio dos Condes da Vidigueira.
Torre do Relógio

A Torre do Relógio data do final da Idade Média. Alberga um sino mandado fazer por Vasco da Gama em 1520.
Ermida de Santa Clara

Datada de 1555, foi mandada construir por D. Francisco da Gama, 2º Conde da Vidigueira, e por sua mulher, D. Guiomar de Vilhena.
Ruínas Romanas de São Cucufate
As Ruínas Romanas de São Cucufate encontram-se nas proximidades de Vila de Frades. O conjunto arquitetónico foi uma villa romana do séc. I, que funcionava como exploração agrícola.
O local foi abandonado no séc. V, e, por volta do séc. X, o edifício foi habitado por uma comunidade frades que tinha São Cucufate como seu padroeiro. Esta comunidade viveu ali cerca de dois séculos.
É um monumento nacional único e impressionante, pois conserva ainda um primeiro andar.
Quinta do Carmo
O Convento Carmelita de Nossa Senhora das Relíquias foi o local que Vasco da Gama, Conde da Vidigueira, escolheu para ser sepultado. Os restos mortais do navegador estiveram na igreja deste convento desde 1539 até 1880, data da sua trasladação para o mosteiro dos Jerónimos.
Sendo esta propriedade particular, as visitas só são possíveis através de marcação.
Personalidades marcantes da região
Vasco da Gama - 1º conde de Vidigueira e Vila de Frades
O título de Conde da Vidigueira foi oferecido a Vasco da Gama em 1519 por D. Manuel I. Vasco da Gama era ele próprio alentejano, tendo nascido numa vila próxima de Sines.

Fialho de Almeida
Em Vila de Frades podemos encontrar a casa onde nasceu o autor Fialho de Almeida em 1857. Nas suas obras literárias também se dedicou a escrever sobre a Vidigueira e Alentejo, sobretudo em “O País das Uvas”.

Centro Interpretativo Cristovão Colon
Apesar de ficar fora do concelho da Vidigueira, não podíamos deixar de fazer uma referência ao Centro Cristóvão Colon.
O homem que descobriu a América, que ficou conhecido como Cristóvão Colon, terá sido português ou genovês? O historiador Mascarenhas Barreto defende a tese que não só era português, como alentejano de Cuba, e o seu nome verdadeiro era Salvador Fernandes Zarco. Esta tese tem atraído muitos curiosos ao concelho.
Desde 2011, está aberto ao público o Centro Cristovão Colón, criado através de uma parceria entre o município de Cuba e a Associação Cristovão Colón. É um espaço de descoberta que reune um espólio de telas, livros e mapas visando confirmar a exatidão desta tese; assim como os relatos das suas viagens ao Novo Mundo, entre 1492 e 1504.
Em 2006 foi inaugurada uma estátua de bronze do navegador no centro da Vila de Cuba.

Enoturismo
Existem muitas adegas no concelho da Vidigueira e muitos espaços que preservam este importante legado da região.
Sendo a produção vinícola a principal atividade dinamizadora do turismo da região, muitos espaços foram reabilitados e agora possuem capacidade para receber visitantes, existindo também uma grande programação à volta desta temática.
Vila de Frades, a Capital do Vinho da Talha
Vila de Frades é conhecida como a capital do Vinho da Talha. Quase todos os seus habitantes têm a sua própria adega com uma talha onde produzem o seu próprio vinho. Existem mais de 60 produtores na vila.
O Centro Interpretativo do Vinho da Talha foi inaugurado em 2020, com o objetivo de preservar e divulgar o património relacionado com o Vinho da Talha.
Entre as povoações de Vila Alva e de Vila de Frades encontram-se as ”Vinhas Centenárias”, um tesouro ancestral. Algumas de suas castas, verdadeiras relíquias do passado, estão à beira da extinção, tornando cada garrafa de Vinho da Talha "uma experiência única e irrepetível.”

Vinho da Talha, 2 mil anos de história no Alentejo
O vinho da talha é uma atividade vínica milenar, em que o vinho é produzido através de técnicas tradicionais trazidas há mais de 2000 anos pelos romanos para o Alentejo.
As talhas são potes de barro usados desde o tempo dos romanos para armazenar vinho e azeite. Para o vinho não ficar em contato com o barro e azedar e para aumentar o tempo de conservação, as talhas são revestidas a cera de abelha e resina de árvores coníferas. Este processo, que tem o nome de “pesgagem” deve ser repetido de 10 a 15 anos.
As uvas esmagadas são colocadas na talha e o processo de fermentação ocorre de forma natural e espontânea, sem serem adicionadas quaisquer leveduras. A fermentação ocorre devido ao contato direto com o mosto, o que também dá origem a um vinho com mais cor, aroma e sabores.
“Durante o processo de fermentação é necessário ir mexendo o mosto, duas a três vezes por dia, de forma a que os gases formados não criem demasiada pressão e a talha rebente. Após a fermentação o mosto desce para o fundo da talha, onde fica em contacto com o vinho, e servirá de filtro aquando do corte da rolha existente no fundo da talha e por onde irá correr o vinho novo, no tão esperado dia de São Martinho.”
A técnica do Vinho da Talha é, neste momento, candidata a Património Cultural e Imaterial da Humanidade da UNESCO.
A Rota do Vinho da Talha é uma rota que pode ser percorrida através de 22 concelhos, visitando as adegas e provando este delicioso vinho. No entanto, o concelho impulsionador desta rota é o da Vidigueira, em especial a freguesia de Vila de Frades, onde se concentra o maior número de produtores e adegas.
Gerações da Talha
Na Adega Gerações da Talha, fomos recebidos por Teresa Caeiro, que está agora à frente do projecto, e cuja missão é preservar esta tradição, este saber-fazer milenar que está na sua família há tantas gerações que ela nem consegue precisar. A sua infância foi passada na adega e nas vinhas. Depois de estudar em Lisboa, Teresa regressou a esta vila “onde todos se conhecem” para beber do conhecimento do seu avó, o Professor Arlindo Maria Ruivo, e para se dedicar a produzir o vinho da talha e a receber os visitantes na adega.
Enquanto provávamos os vinhos, um branco e um palhete, feito com misturas de uvas tintas e brancas, Teresa contou-nos a história do seu bisavô Francisco Anacleto, cuja barrica de vinho ainda conserva, e com a qual ele costumava abastecer as tabernas locais.
Mostrou-nos as talhas com várias centenas de anos e falou-nos desta técnica milenar de fazer vinho, feito de castas autóctones, como a Antão Vaz.
Adega Museu Cella Vinaria Antiqua
Na Adega Museu Cella Vinaria Antiqua, fomos recebidos pela Nathalia, uma enóloga brasileira, que veio para cá aprender sobre o Vinho da Talha, fascinada com esta tradição, única no mundo.
A Adega está instalada num edifício centenário, que sempre serviu a função de adega. O edifício adquirido pela Honrado Vineyards foi alvo de uma intervenção que revelou a traça original do edifício, tendo sido depois recuperada a sua construção primitiva, uma espantosa adega antiga e com muita história.
Na visita guiada foram-nos mostradas as talhas, um “ladrão” - talha enterrada no chão, um antigo poço e um sistema de refrigeração.
Ao lado da adega, encontra-se o restaurante O País das Uvas, o restaurante da família, que é uma referência gastronómica na região. A gastronomia típica do Alentejo, como os ovos com cilarcas e espargos e as açordas, fazem-se acompanhar pelos vinhos da talha produzidos na adega.
Outras adegas:
Tabernas dos Arcos
O espaço da taberna está rodeado de Talhas de Barro, sendo a mais antiga datada de 1656. Ainda se encontra também o tradicional poço que servia para manter os vinhos frescos.
Casa das Talhas
XXVI Talhas (Vila Alva)
Adega Museu Vinho da Talha, Vidigueira
Eventos
São Martinho - Abertura das Talhas
Diz um ditado popular “No São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.
Todos os anos no dia de São Martinho, celebra-se a abertura das talhas, uma tradição muito antiga. Os produtores provam e dão a provar o vinho novo, e festeja-se com os familiares, vizinhos e amigos e, claro, com o Cante Alentejano.
Neste dia, é colocada uma torneira na talha e o vinho começa a escorrer para um alguidar de barro, um momento de grande celebração de muitos meses de trabalho dos produtores.
A adega Gerações da Talha, organiza todos os anos a Rota das Adegas, um programa que celebra a tradição do Vinho da Talha em Vila de Frades. Começa com uma visita na adega Gerações da Talha, com a abertura das talhas e a prova do vinho novo. Um grupo coral de cante alentejano guia o grupo a pé pela aldeia de Vila de Frades por várias adegas, onde se dá a provar o vinho dos produtores. Regressa-se depois à adega Gerações da Talha, onde será servido um almoço tradicional, entre as talhas, geralmente um cozido de grão e outros petiscos alentejanos.
Uma tradição que era feita entre amigos e família é agora aberta a toda a comunidade e visitantes.
Vitifrades
A Vitifrades é uma feira gastronómica dedicada à promoção do Vinho da Talha, que decorre desde 1998 em Vila Frades, em Dezembro. Conta com várias atividades, nomeadamente: Cante Alentejano, Show Cookings, Concursos de Vinho da Talha, passeios pedestres, etc.
Vindimas
Em Agosto / Setembro, a Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito oferece um programa de Vindimas onde se pode aprender a vindimar, comer a bucha tradicional servida na vinha e um almoço com prova de vinhos.
Cante Alentejano
A 27 de Novembro de 2014 a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência, e Cultura (UNESCO), declarou o Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade
O Cante Alentejano sempre teve a sua manifestação espontânea nas adegas e tabernas do Alentejo, nos momentos de convívio entre os homens.
Quando as vozes são libertadas em uníssono cantando o seu repertório de modas, é grande a emoção que percorre quem assiste.
O vinho da Talha e o Cante Alentejano são, então, dois fortes pretextos para visitar a Vidigueira.
A Quimera está a organizar um fim de semana na Vidigueira, com caminhadas, gastronomia, provas de vinhos e cante alentejano, no primeiro fim de semana de Março.
Caminhar
Promovido pela Câmara Municipal de Vidigueira, o projeto “Vidigueira Mexe-te sff” criou vários percursos pedestres para a descoberta das paisagens do concelho de Vidigueira, nas freguesias de Vidigueira, Vila de Frades, Pedrógão e Selmes.
Outros trilhos que recomendamos:
PR1 VDG - Pelas Vinhas de São Cucufate
PR1 CUB - Nas Centenárias Vinhas de Vila Alva
Percurso Pelas Vinhas de São Cucufate
Rio Guadiana
Se forem visitar a Vidigueira, aconselhamos um passeio de contemplação do Rio Guadiana, junto à aldeia de Pedrógão.
Abaixo da barragem de Pedrógão podemos encontrar um troço que conserva a sua beleza primitiva e selvagem, com miradouros e pedras a quem os habitantes locais deram nomes. É um lugar que inspira tranquilidade e harmonia, perfeito para observação de fauna e flora. Nós fomos numa manhã de inverno em que o nevoeiro cobria o vale e os campos, e só depois é que começou a levantar. O final do dia também é uma boa altura para visitar, pois as cores favorecem a fotografia.
O nome Guadiana vem do topónimo Odiana ou Uadiana, da época do al Garb al Andalus, e que significa “ocidente de Hispânia”. É o terceiro maior rio da Península Ibérica, percorrendo no total 810 km desde as lagoas de Ruidera em Espanha até à foz entre Vila Real de Santo António e Ayamonte. Em grande parte do seu percurso delimita a fronteira entre Portugal e Espanha, e está associado a muitas histórias de contrabando.
Onde Comer
Alguns destaques da gastronomia desta região alentejana são a caça, os enchidos e presuntos, o peixe do rio Guadiana, o pão alentejano, o azeite e as azeitonas e as cilarcas.
A cilarca é um cogumelo selvagem - Amanita ponderosa. É uma espécie comestível que se desenvolve em montados, mas pode facilmente ser confundida com outras espécies tóxicas de amanitas. O seu valor comercial é alto e a sua procura tem aumentado bastante.
Alguns dos pratos típicos são:
Sopas e açordas
Porco preto
Ensopado de borrego
Feijão com tengarrinhas
Restaurantes
País das Uvas - Vila de Frades
Taberna do Inteiriço - Vila de Frades
Adega do Zé Galante - Vila de Frades
Quinta do Quetzal - Vila de Frades
Taberna da Tia Jacinta - Vidigueira
Adega da Lua - Cuba
Adega de Monte Pedral - Cuba
Glossário
Mãe - partes sólidas que, repousando no fundo da talha, são essenciais para o estágio e a filtragem do vinho.
Ladrão - talha auxiliar ****enterrada no chão da adega. A sua principal função é servir como reservatório de segurança para o mosto ou vinho. Caso alguma das talhas maiores, onde ocorre a fermentação, venha a rebentar, o vinho derramado escoa naturalmente para o ladrão, evitando perdas significativas.
Palhete - O vinho Palhete é com mistura de uvas tintas e brancas, sendo que, segundo a lei, as uvas brancas não podem ultrapassar 15% do total das uvas utilizadas. Já o teor alcoólico deste tipo de vinho, é normalmente baixo - entre os 11% e 12%.
Tengarrinhas - cardos picados cujos caules são comestíveis, depois de se retirar as folhas com picos.
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