Dolomitas, a Meca do Montanhismo
- Michael Guerreiro

- 24 de set.
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de out.

A viagem da Quimera Travel Experiences às montanhas das Dolomitas, em julho/agosto de 2025, foi uma viagem ao coração do trekking de Itália. Foi uma atividade planificada com respeito pela montanha e de forma a garantir a segurança de todos os que nos acompanharam. Tivemos a sorte de ter conseguido juntar um grupo participativo e de uma entre-ajuda fabulosa, que no final se transformou numa nova família.
Com as suas paisagens de cortar a respiração, as Dolomitas são um verdadeiro paraíso para os entusiastas de aventura ao ar livre. Entre trilhos técnicos, percursos desafiantes e opções para todos os níveis de experiência, esta região é o destino de sonho para amantes do trekking e da escalada.
Reconhecida como Património Mundial da UNESCO desde 2003, a região encanta pelas formações rochosas únicas, pelos lagos cristalinos e pelo fascinante fenómeno da Enrosadira — quando, ao nascer ou pôr do sol, as montanhas se tingem de tons de rosa, vermelho, laranja e violeta. O espetáculo acontece graças à composição geológica da rocha dolomita, rica em cálcio e magnésio, que reflete a luz avermelhada dos primeiros e últimos raios de sol.
Dia 0 - O dia da chegada
A aventura começou em Veneza, onde fomos recebidos pelo nosso parceiro local e seguimos viagem até perto de Cortina d’Ampezzo.
Ainda nesse dia ainda fizemos uma pequena caminhada de aclimatização, num dos lugares mais belos de Itália - as Tre Cime di Lavaredo (ou “Três Cumes de Lavaredo”), que são um dos símbolos mais famosos das Dolomitas. São um conjunto de três picos impressionantes, alinhados lado a lado:
Cima Grande (2.999 m) – a mais alta
Cima Ovest (2.973 m)
Cima Piccola (2.857 m)
Estes cumes são especiais porque têm uma forma cónica e vertical, e são um dos melhores locais para observar a Enrosadira. Além disso são um paraíso de trekking e escalada.
Diante daquela paisagem sublime, sentíamos a pulsação acelerar de pura emoção. A noite foi passada num hotel de charme à beira do Lago Misurina, outro ícone italiano. Depois de uma boa pizza acompanhada de cerveja local, fomos descansar, prontos para dar início à grande jornada.
Dia 1 - Despedida do Lago Misurina e partida em semi-autonomia
Iniciamos o nosso trekking a uma cota de 1000m, com o objetivo de pernoitar num refúgio a 2600m.
A subida foi exigente, sobretudo quando, já na reta final, o nevoeiro e a chuva nos desafiaram. Chegámos em segurança ao nosso refúgio graças à excelente orientação do nosso guia de montanha local, bom conhecedor das manhas destas montanhas.
Apesar destas condições meteorológicas, podia-se observar o sorriso estampado no rosto de cada elemento do grupo. O tempo entretanto abriu e conseguimos secar alguma roupa para o dia seguinte.
O resto do dia foi de convívio no refúgio, especialmente na partilha de uma bela refeição.
Dia 2 - Um dos mais longos e desafiantes da viagem
Iniciamos o nosso dia com um bom pequeno-almoço e um briefing encorajador. Tivemos uma primeira descida técnica, por sorte sem chuva nesta fase. A paisagem é completamente rochosa, pura essência das Dolomitas. Com cuidado acrescido, prosseguimos o nosso caminho. Chegados ao Vale de Lagazuoi, e terminada a parte mais exigente, a chuva começou a acompanhar-nos ininterruptamente durante cerca de 85% do percurso restante.
A partir daqui, o verde e o azul das ribeiras e das cascatas destacavam-se e tivemos a oportunidade de observar muita flora e fauna alpina, nomeadamente o lobo cinzento. Atravessamos pontes e ribeiras em locais próximos a cascatas, e almoçamos debaixo da estrutura de uma cascata, que oferecia cobertura para a chuva.
Cruzamos, depois, a fronteira para a Áustria, para a região do Tirol do Sul, onde os glaciares, os cumes cobertos de neve e o verde das florestas estavam sempre presentes na paisagem envolvente. A parte final do percurso foi feita de forma descendente, tendo a chuva aparecido novamente, agora mais tímida.
Chegados ao refúgio Lavarella, localizado no Parque Natural de Fanes-Senes-Braies, o grupo estava cansado mas feliz. Secamos a roupa para o dia seguinte, descansamos, convivemos e comemos pratos típicos tiroleses, acompanhados de cerveja artesanal. Este refúgio é famoso por ser o refúgio alpino mais alto da Europa com uma microcervejaria própria.
Sabíamos que os dias seguintes seria de sol, o que nos deixou mais animados.
Dia 3 - Entre Lagos Secretos e Paisagens Bucólicas
Neste dia, o percurso foi equilibrado entre subidas e descidas e foi o dia mais tranquilo, coincidindo com o momento em que o nosso caminho se juntou à Alta Via 1, um trilho menos técnico, mas bastante mais movimentado. Ao longo do trajeto, passámos por miradouros de suster a respiração, por lagos de grande beleza como o Lago Verde (Lè Vert) e o Lago Negro (Lè Vërt de Fanes), situados num vale de origem glaciária, rodeado pelas impressionantes formações rochosas do maciço de Fanes.
Paramos para almoçar num refúgio e restaurante icónico, o refúgio de Pederü, localizado no Vale di Rudo, rodeado por paredes rochosas impressionantes, que criam uma atmosfera de vale encaixado, e continuamos por caminhos de uma beleza bucólica: pequenas casas de madeira alpinas, prados floridos no verão e um silêncio impressionante.
A pernoita foi no melhor refúgio das Dolomitas, o refúgio Fodara Vedla, de ambiente rústico e pitoresco, onde não tínhamos rede, mas tínhamos uma localização top, e a comida era fantástica.
Dia 4 - Um dia cheio de desafios
A nossa caminhada neste dia foi longa e desafiante, bastante técnica, com vários túneis e escadas com cabos de aço para nos agarrarmos. Os membros do grupo que tinham vertigens, puseram-nas de lado, tal era a beleza dos trilhos. A temperatura estava amena e a beleza circundante deixava-nos num estado de paz.
Paramos num refúgio para um almoço típico de macarronada e, no final, foi-nos oferecida uma bebida típica dos Alpes italianos, a Grapa, que em Portugal conhecemos como bagaço. A energia para continuar o trekking estava restabelecida.
O caminho foi longo e cada segundo foi vivido com intensidade. Lá ao fundo de um longo carreiro, conseguíamos observar aquele que iria ser o nosso último refúgio.
Assim que lá chegamos, fomos logo jantar um belo repasto de montanha e o grupo estava bastante animado. O descanso foi merecido.
Dia 5 - Último dia e regresso a casa
Depois do pequeno-almoço seguimos para o trajeto final, uma caminhada por uma zona que foi palco de combates na Primeira Guerra Mundial, onde ainda hoje se podem ver trincheiras e túneis militares na área.
Foi, sem dúvida, um final em grande, com memórias que vão ficar para sempre no nosso coração. Foram, ao todo, 76 km, atravessando dois países: Itália e Áustria.
Regressamos então para Veneza, alguns para o voo de regresso, outros para aproveitarem mais uns dias na Pérola do Adriático.
Conclusão
A resiliência deste grupo foi notável. Todos os dias seguíamos com energias renovadas, com mais vontade de adrenalina e com mais sentimento de satisfação pela superação das dificuldades físicas e psíquicas. Um grande espírito de união deixou-nos um grupo mais coeso e amigo.
Guardo imensa gratidão por partilhar momentos tão especiais com pessoas extraordinárias e por ter conhecido lugares tão mágicos. Trago comigo muitas experiências, memórias e aprendizagens.
Obrigado, e até à próxima aventura!
Michael Guerreiro


























































































































































































































































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