Nazaré
A nossa viagem continuou para a típica vila da Nazaré. Esta antiga vila piscatória, que no século XX voltou-se para o turismo, um turismo de praia, mais tradicional, nos últimos anos tem atraído outro tipo de turistas, surfistas e fotógrafos, amantes do surf e da natureza que vêm admirar a força do mar. Neste sítio único, devido ao Canhão da Nazaré, são geradas ondas de 30 metros, sendo considerado o melhor sítio do mundo para observar ondas gigantes.
Quando chegamos à Nazaré estava a chover. Colocamos as nossas capas e fomos procurar a rota PR1 Milagres da Nazaré. Primeiro passamos pelo Mercado Municipal e decidimos entrar. Nós adoramos mercados, ver as cores das bancas dos agricultores, os bolos caseiros e, claro, o peixe fresco. Devido ao aparecimento das grandes superfícies, a ida ao mercado deixou de ser tão frequente mas, felizmente, ainda muitas pessoas têm este costume. E é aqui que se encontram os produtos mais frescos. Na banca do peixe encontramos uma senhora muito simpática que estava a vender um petisco muito típico da Nazaré: peixe seco. Eram carapaus e sardinhas escalados e temperados com azeite, alho e ervas. Que delícia e só 5€ o peixe! Provamos este petisco e, quando saímos para rua, já não estava a chover!
No núcleo urbano da Nazaré existiam três antigos povoados: a Pederneira, o Sítio da Nazaré e a Praia da Nazaré. Na segunda metade do século XX surgiram os novos bairros.
O povoamento da Nazaré iniciou-se na zona da Pederneira. A ocupação da zona da Praia é muito mais recente, e só foi possível com o recuo do mar. Na zona hoje em dia ocupada pelo casario existiam dunas e, a sul, a foz do rio Alcoa. Muitas pessoas chegaram à Nazaré à procura de oportunidades de trabalho ligadas à pesca. Nesta zona, abrigada pelo promontório, o mar não tem a ondulação mais violenta que podemos encontrar na Praia do Norte, do outro lado do promontório.
A Praia
As Artes da Pesca
Na Nazaré podemos encontrar as mais antigas tradições de Portugal ligadas às artes da pesca. Sabia que muitos nazarenos viajaram aos mares do Norte para a Pesca do Bacalhau?
A Arte Xávega era um tipo de pesca artesanal, em que a rede era colocada no mar nos vários "lances". Uma hora e meia depois, duas filas de homens e mulheres puxavam as cordas e arrastavam o saco pela areia.
Entre 1995 e 2011, a Autarquia da Nazaré, com o apoio dos pescadores locais, fez a recriação da Arte Xávega, entre os meses de Maio a Junho.
No areal da Praia da Vila, podemos encontrar vários exemplares de embarcações tradicionais de pesca, e também um barco salva-vidas que salvou alguns pescadores de naufrágios. Muitos outros homens do mar perderam a sua vida no mar. As antigas embarcações foram adquiridas e restauradas pela autarquia da Nazaré, em protocolo com o Museu Dr. Joaquim Manso.
Algumas embarcações tradicionais como a "Nossa Senhora dos Aflitos", a "Mimosa", o "Perdido", a "Vagos", a "Ilda", a "Três Irmãos Leais" e a "Sol da Vida" foram recuperadas por um técnico carpinteiro naval e são ícones representativos da identidade e da história do concelho, ligada ao mar.
A Seca do Peixe
Na Praia da Nazaré, em frente ao Centro Cultural da Nazaré, onde funcionou a Lota está o Mercado do Peixe Seco, onde diariamente as mulheres continuam a secar o peixe em paneiros, sendo um saber essencialmente feminino.
Quando o peixe escasseava esta atividade assegurava o sustento das famílias. Quando havia excesso de pescado, as peixeiras recorriam a esta arte para conservar o peixe.
Existem dois produtos distintos: o peixe seco e o "peixe enjoado". Depois de amanhado e salgado, o peixe é estendido em paneiros - tabuleiros retangulares de rede - onde permancece cerca de 2/3 dias ou, no caso do peixe enjoado apenas 3/4h. As espécies mais utilizadas são o carapau, os batuques, a petinga e o cação.
Em frente ao Centro Cultural está a Estátua da Mãe Nazarena, uma homenagem às mulheres da Nazaré, que tinham uma vida muito dura pois dedicavam-se simultaneamente à pesca e aos filhos, ficando por grandes períodos de tempo sozinhas, enquanto os seus homens estavam fora no mar.
O Traje Nazareno é único em Portugal: as mulheres usavam as famosas sete saias com as quais esperavam os seus maridos e filhos na praia e os homens a típica camisa de flanela e barrete preto.
O sítio
O Sítio é um promontório impressionante, com 318m de altura e miradouros para a baía da Nazaré. Para ir até ao Sítio pode-se ir a pé ou no Ascensor.
Miradouro do Suberco.
Este é o miradouro mais conhecido da Nazaré, localizado no Promontório.
A Ladeira era um antigo caminho de areia que servia de ligação entre a Praia e o Sítio, que foi calcetado para facilitar a circulação. Até à construção do Ascensor este era o caminho mais rápido para o Sítio.
Na Ladeira foi construído o Baloiço Panorâmico da Nazaré com vista sobre a praia e o casario. Também poderá admirar aqui o Mural da Onda Gigante do artista brasileiro Erick Wilson.
A instalação do elevador mecânico, em 1889, veio contribuir para o aumento da população do Sítio, que era mais frequentado por romeiros e peregrinos. A gare do Ascensor está muito apelativa com o painel em cerâmica do artista plástico Mário Reis. Na gare superior do ascensor pode encontrar mais painéis alusivos ao universo da Nazaré, desde as suas tradições até ao surf, criados por este artista das Caldas, que foi convidado pelo Município da Nazaré para a realização de Arte Pública.
O Culto de Nossa Senhora da Nazaré
A história do Sítio está ligada ao Culto de Nossa Senhora da Nazaré e à lenda do Milagre da Nazaré. O Culto Mariano do século do século XVIII é hoje candidatura a Património Imaterial da Humanidade e tem uma grande expressão no Brasil.
A imagem de Nossa Senhora da Nazaré é uma Virgem Negra, esculpida em madeira, foi trazida de Mérida por um monge que fugia aos invasores muçulmanos. Foi venerada em vários santuários, primeiro numa gruta junto à arriba, onde o monge viveu como eremita. Depois a imagem foi levada para a Capela da Memória, à beira da falésia, sobre a gruta, mandada construir por D. Fuas Roupinho em agradecimento à Virgem por esta lhe ter salvo a vida.
Segundo a lenda, D. Fuas Roupinho, alcaide-mor do Castelo de Porto de Mós, tinha por hábito caçar na região. Numa amanhã do ano de 1182, com muito nevoeiro, o alcaide estava a perseguir um veado quando o viu desaparecer no precípicio. Assustado, pediu auxílio à virgem e o cavalo parou de imediato, salvando-lhe a vida.
Hoje em dia a imagem da Nossa Senhora da Nazaré está no altar do Santuário da Nossa Senhora da Nazaré e atrai grandes romarias no dia 8 de Setembro. Este Santuário foi fundado pelo rei D. Fernando em 1377. No século XVII foi reconstruído e dificilmente se reconhecem hoje as suas origens medievais. Tem um terreiro bastante espaçoso para acomodar os peregrinos e, dos lados, estão o edifício do Hospital e o Antigo Paço Real.
A Onda da Praia do Norte
As ondas da Nazaré ficaram famosas mundialmente graças ao Recorde Munidal da maior onda já surfada, de 30 metros, que foi estabelecido por Garret McNamara, na Praia do Norte, em Novembro de 2011. Hoje em dia, Nazaré é palco dos maiores campeonatos mundiais de Surf.
Estas ondas gigantes são possíveis devido à existência do canhão submarino da Nazaré, que modifica o comportamento e a estrutura das ondas. As ondas viajam mais rápido no canhão e, quando chegam à praia, a profundidade reduz-se, a onda faz um empolamento e amplifica a sua altura.
O Canhão da Nazaré é o maior desfiladeiro submerso da Europa, com 5000 metros de profundidade. No final da 2ª Grande Guerra Mundial, um submarino alemão foi afundado na zona do Canhão da Nazaré.
A época das grandes ondas na Nazaré é entre Outubro e Março, mas é sempre bom consultar as previsões no site windguru. No site nazarewaves.com pode subscrever as notificações e ser notificado sempre que existam condições boas para ondas gigantes na Nazaré.
O melhor local para observar as ondas é no Forte São Miguel Arcanjo, junto ao Farol. A caminho do Forte encontramos a Estátua Homenagem aos Surfistas e a Nossa Senhora da Nazaré-"O Veado", da autoria de Agostinho Pires e realizada pela escultora Adélia Alberta. Na escultura antropomórfica do surfista veado estão reunidos os dois temas da história da Nazaré: a lenda do veado e da Nossa Senhora da Nazaré e os surfistas das ondas gigantes da Nazaré.
Forte de São Miguel Arcanjo
O Forte de São Miguel Arcanjo, de estilo maneirista, foi construído em 1577, no reinado de D. Sebastião, para defender a enseada dos ataques dos piratas. Em 1644, no reinado de D. João foi reconstruído e ampliado. A imagem de pedra calcária de São Migeul Arcanjo, protetor do Forte tem uma inscrição com esta data.
Durante as Invasões Francesas, as tropas refugiaram-se no forte e combateram contra as populações locais do Sítio e da Pederneira. As gentes da terra lutaram pela sua liberdade e para expulsar os invasores e muitos pereceram.
Mais tarde foi também palco de lutas liberais. Por esta altura a imagem do Santo sofreu um grave atentado por parte dos liberais que a mandaram pelas muralhas abaixo até à praia. Ainda hoje se encontra mutilada.
No século XX, os pescadores pediram ao Governo a construção de um farolim e casa para o faroleiro para apoio da atividade piscatória.
No Forte de S. Miguel Arcanjo poderá visitar o Centro Interpretativo do Canhão da Nazaré e o Surfer Wall.
O Centro Interpretativo do Canhão da Nazaré contém informação científica realizada pelo Instituto Hidrográfico e uma maqueta do Canhão da Nazaré.
O Surfer Wall é um projeto museológico criado em 2016 com uma exposição de pranchas oferecidas pelos surfistas à Nazaré com um pequena biografia sua.
Junto ao muro está uma instalação de gaivotas do artista Mário Reis, que hoje em dia pertence ao espólio do Forte.
A Gruta do Forno da Orca
Na Praia no Norte, escondida na base do promontório, no extremo sul praia, da está uma gruta calcária com uma forna típica de erosão marinha, o Forno da Orca. Quando a maré está baixa e o mar está calmo é possível visitar a gruta por dentro. Se estiver um dia de mar revolto e com maré alta, o mar entra violentamente para dentro na caverna.
Duna da Aguieira
A Duna da Aguieira foi considerada a maior duna consolidada da Europa. Pertence a um complexo sedimentar de dunas e areias no Norte da Nazaré e atinge uma largura de 6 km. A preservação desta estrutura, que resiste aos efeitos erosivos, está relacionada com a plantação do Pinhal de Leiria.
Nas imediações da Nazaré, existe um extenso pinhal, que pertence ao Pinhal de Leiria. No Pinhal da Casa de Nossa Senhora da Nazaré existe também um parque de merendas e um parque infantil. Neste pinhal habitam um conjunto de cervídeos - gamos e veados - que foram oferecidos pela Direção Geral de Recursos Florestais, num projeto que visou o repovoamento do pinhal com algumas espécies que já existiam na área e, também, como evocação da lenda do Milagre da Nazaré.
O imenso pinhal de Leiria foi plantado pelo rei D. Afonso III, ampliado pelo rei D. Dinis, o "Rei Lavrador", e ficou conhecido como o Pinhal do Rei. Foi durante séculos o pulmão de Portugal, pois por cada árvore cortada, uma era plantada. Durante os Descobrimentos, as caravelas e outras embarcações foram construídas com madeira deste pinhal.
A resinagem é o processo de extração de resina dos pinheiros e é feita sobretudo no litoral centro do país. Para acesso à resina, há que fazer cortes na casca do tronco dos pinheiros e afixar-lhes recipientes que recolhem a substância libertada durante cerca de 15 dias até que feche a ferida e, eventualmente, seja feito um novo rasgo. Existe uma forma de exploração mais intensiva, a "resinagem à morte", em que são feitos muitos rasgos na árvore. Por lei apenas é permitido este tipo de extração nos 4 anos que antecedem o abate da árvore.
Passamos pelo Caminho da Nazaré, em direção a Fátima. Este caminho tem 50 km de extensão, faz-se em duas etapas e une dois importantes santuários ligados ao Culto Mariano.
Nesta parte do percurso, que seguíamos no GPS, a rota atravessa em dois pontos novas vias rápidas que foram construídas após a marcação do percurso. Por esta razão, e por a marcação do percurso não ter tido manutenção há muitos anos, segundo nos parece, não aconselhamos a realização deste percurso.
Monte de São Bartolomeu
No meio de uma paisagem dunar coberta pelo pinhal de Leiria, existe uma ilha de flora mediterrânica, no Monte de São Bartolomeu, sítio classificado desde 1979, onde crescem espécies como o carvalho, o carrasco, o aderno e o medronheiro, e vivem alguns animais como, por exemplo, a gineta. Esta elevação de origem magmática tem no seu cume 156m de altura.
No topo, entre grandes penedos, ergue-se a Capela de S. Brás e São Bartolomeu, que faziam parte de um antigo eremitério. É aqui nesta elevação que se encontra também um posto de vigia do guarda florestal.
Desde há vários séculos, no dia 3 de Fevereiro, dia de São Brás, a população da Nazaré faz uma romaria ao monte para celebrar a data.
Infelizmente encontramos o local com muito lixo nas grutas das imediações, e algumas árvores derrubadas no caminho a nascente.
Pederneira
Miradouro da Pederneira
Localizado junto à Igreja da Misericórdia, este miradouro natural oferece uma panorâmica sobre a mancha verde do Pinhal de Leiria, a linha de costa, o Sítio e o casario da Nazaré.
O pelourinho da Pederneira
Na Praça Bastião Fernandes, junto ao edifício dos antigos Paços do Concelho e à Igreja Matriz de Nossa Senhora das Areias, encontramos este intrigante pelourinho. Para quem passa pode passar despercebido mas trata-se de um tronco fossilizado de uma árvore conífera datada do período Cretácio. O tronco foi colocado sobre a base do antigo pelourinho que havia desaparecido. Não se sabe as razões que levaram ao desaparecimento do antigo pelourinho, mas crê-se que a escolha do tronco para substituição se liga com um Culto Mariano pré-cristão, que deixou muitas marcas na nossa cultura popular, um fenómeno designado como Fitolatria, em que árvores centenárias são colocadas em adros de igrejas e junto de monumentos.
Joana de Castro Rodrigues e Carlos Neto de Carvalho, no seu artigo "As Árvores Fósseis de Vila Velha de Rodão: Contribuição para a sua Conservação e Valorização como Geomonumentos" salientam a importância da conservação destes fósseis e do seu reconhecimento como Geomonumentos e afirmam que o Pelourinho da Pederneira é um fragmento de um tronco fóssil de uma conífera e "o primeiro fóssil a ser protegido por lei em Portugal, ocupando o lugar do antigo símbolo do poder local desde 1886", além de ser "o único exemplar no mundo em que um fóssil foi aproveitado diretamente como símbolo popular de soberania local".
Jardim da Pedralva
Descendo da Pederneira em direção à Nazaré, passamos pela Ermida de Nossa Senhora dos Anjos e pelo Jardim da Pedralva.
O Jardim da Pedralva tem este nome por ter sido construído ao redor do Monte Branco, não o dos Alpes, mas um conjunto de afloramentos rochosos em tons brancos devido à argila branca que compõe as rochas. É um miradouro natural que proporciona uma vista panorâmica sobre a Nazaré e Arredores.
O parque tem um lago e outras infra-estruturas de lazer, assim como um conjunto de bancos de jardim com azulejos dos anos 30. Neste parque poderá encontrar diversas espécies botânicas, tanto ornamentais como nativas. Algumas plantas ornamentais são exóticas e vieram de partes distantes do mundo.
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